quinta-feira, 31 de maio de 2012

FALTA DE INFRAESTRUTURA HOSPITALAR AFETA O CONTROLE DE INFECÇÕES

As infecções adquiridas nos serviços de saúde chegam a matar cerca de 100 mil pessoas ao ano no Brasil. Os índices de contaminação nos estabelecimentos de saúde brasileiros giram em torno de 15% ao ano. O recomendável é de apenas 5% (Anvisa). A ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar acredita que para diminuir esse número alarmante de doenças fatais, a arquitetura e a engenharia podem ser grandes aliados.



A Lei 9.431/1997 determina que cada hospital crie uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), a iniciativa, porém, ainda não surtiu os efeitos desejados. Segundo pesquisa da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 25% dos estabelecimentos de saúde ainda não montaram suas comissões, e os que já fizeram, metade estão sem plano estratégico em andamento. Por isso, as infecções hospitalares continuam matando perto de 100 mil pessoas ao ano, conforme levantamento da Anbio - Associação Nacional de Biossegurança. O índice de contaminação nos hospitais chega a 15%, número alto comparado com o recomendável de 5% pela Anvisa.  

De acordo com Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH -Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, para ajudar no controle da proliferação de micro-organismos patogênicos tanto em hospitais, laboratórios, clínicas, postos de saúde e consultórios, é necessário investir em mais conhecimento e tecnologias na área e, além disso, é de suma importância orientar os profissionais para que saibam usar as técnicas arquitetônicas em benefício do seu trabalho.
Segundo o especialista, a pesquisa “O controle da infecção hospitalar no Estado de São Paulo”realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), em 2010, destaca que 7,67% das unidades hospitalares ainda não dispunham de Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) implantadas. O relatório também revelou a não existência de um programa de prevenção e controle de infecção hospitalar, formalmente elaborado e executado, em cerca de metade das instituições avaliadas. Diversas instituições de saúde no Brasil, de acordo com o estudo, ainda convivem com graves problemas estruturais como falta de pias e lavatórios, revestimentos de piso, paredes e teto inadequados, fluxos incompatíveis, principalmente nas UTIs e Centros Cirúrgicos, além da aplicação de protocolos comportamentais, como a lavagem de mãos de forma eficiente. “Esses problemas contrastam com a atual necessidade dos hospitais de estarem preparados e produzirem um ambiente seguro para os pacientes. Com doenças cada vez mais complexas e graves, esse é um desafio para quem lida com os ambientes de saúde”, explica Bitencourt.   
Outro fator determinante quando se pensa no combate à proliferação de microrganismos patogênicos é a correta higiene das mãos nos estabelecimentos de saúde. Este seria, segundo recomendação da OMS – Organização Mundial da Saúde, o procedimento mais importante e barato para evitar a transmissão de infecções relacionadas à saúde assistência à saúde (IRAS). Sua prática deve ser incentivada nos serviços de saúde, tanto para os profissionais, como para pacientes e visitantes. No entanto, a adesão em ambientes hospitalares brasileiros permanece baixa, em torno de 40%, com taxas que variam de 5% a 81% em todo território nacional.
A Anvisa, em conjunto com o Ministério da Saúde, acaba de publicar um relatório sobre “Autoavaliação para Higiene das Mãos (HM)” (MS, março 2012), que destaca os principais fatores relacionados com a baixa adesão à HM em serviços de saúde do Brasil, entre eles: ausência de lavatórios e pias; deficiência de insumos como sabão líquido e papel toalha; falta de estímulo; falha na atitude pessoal; presença de dermatites, ressecamento ou outras lesões de pele; falta de exemplos por parte de colegas e superiores e capacitação insuficiente. Esta é a primeira pesquisa realizada no País, com base no instrumento norteador de HM, desenvolvido recentemente pela OMS, com o objetivo de avaliar a situação da rede hospitalar no Brasil em relação à promoção e às práticas de higienização das mãos.
O relatório contou com a participação voluntária de 901 serviços de saúde, em todo o Brasil, por meio de um formulário disponível no site da Anvisa, entre 4 de maio e 31 de dezembro de 2011. Na totalização da HM, o estudo observou que apenas 9,65% das instituições estão no nível avançado; 34,29% encontram-se no nível intermediário; 45,4% das instituições estão classificadas no nível Básico e 10,65 ainda estão classificadas no nível inadequado.

A conclusão é que ainda é necessário um grande esforço por parte dos estabelecimentos de assistência à saúde (EAS) em áreas importantes. Do total de estabelecimentos de saúde, que responderam ao questionário, 67% possuem um lavatório para cada dez leitos e um lavatório para cada unidade de terapia intensiva; em 66% dos EAS não existe um sistema de observadores para verificação da adesão à higienização na instituição; 53% dos EAS reportaram que as preparações alcoólicas para as mãos se encontravam amplamente disponíveis na instituição com fornecimento regular, em cada ponto de assistência (com eficácia e tolerabilidade comprovadas); 50% das instituições pesquisadas realizam o monitoramento do consumo de sabonete líquido para HM.
Para Bitencourt, da ABDEH, o trabalho do profissional que atua em ambientes de saúde será fundamental na hora de especificar o lugar correto para colocar o lavatório, a torneira, o porta-sabão e o porta-papel, entre outros recursos físicos para atender os profissionais da saúde. “De nada adianta a obra e os equipamentos, se a equipe de assistência não tem a consciência e a informação de que a higienização das mãos é um dos mais eficientes atos no controle de infecção”, ressalta.  
Segundo o arquiteto Flávio de Castro Bicalho, autor do livro “A arquitetura e engenharia no controle de infecções” (editora Rio Books, 2010), a arquitetura e a engenharia podem auxiliar criando ambientes favoráveis ao trabalho dos profissionais da saúde, visitantes e pacientes. “Quando analisamos a infraestrutura hospitalar é preciso pensar desde a escolha do terreno até no piso adequado para se colocar na sala de cirurgia. Essas medidas serão aliadas nos procedimentos das equipes de saúde no combate das infecções”, explica. 
Bicalho alerta que um erro no projeto ou na manutenção da edificação hospitalar pode se tornar um vilão ao invés de ser um valioso aliado no controle da contaminação. “Um equívoco muito comum é não pensar numa barreira de separação entre a roupa suja e a limpa, dentro da lavanderia de um hospital. Outro erro é deixar de instalar duas ou mais caixas d’água em funcionamento rotativo. Enquanto uma é usada, a outra está sendo higienizada para entrar em operação na sequência. Sem essa manutenção preventiva, o equipamento pode ocasionar uma série de contaminações na água”, analisa. Outro exemplo essencial, quando se pensa nos serviços de saúde, é o controle da qualidade do ar. “É preciso pensar num sistema de climatização apropriado para cada área específica do estabelecimento, como lavanderia, ambulatórios e centro cirúrgico, entre outras unidades, para que se possa manter um ambiente limpo e isento de partículas e microrganismos em suspensão”, acrescenta.
O zoneamento dos espaços em áreas críticas, semicríticas e não críticas; barreiras físicas entre ambientes; controle de contaminação do ar; fluxos corretos de trabalho; e a escolha criteriosa dos materiais de acabamento são outras técnicas que os engenheiros e arquitetos devem adotar para a ajuda no controle de infecção. “Essas soluções, em conjunto com os procedimentos dos profissionais de saúde, contribuem para que os índices de infecções nos estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS) estejam dentro dos níveis aceitáveis. O trabalho dos arquitetos e engenheiros, que lidam com o ambiente hospitalar, visa minimizar os riscos ou preveni-los quando houver a chance”, completa Flávio de Castro Bicalho.

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