domingo, 29 de julho de 2012

HOSPITAIS-DIA USAM ARQUITETURA EM PROL DA RECUPERAÇÃO DOS PACIENTES

Os Hospitais-Dia são estabelecimentos de saúde que têm como característica o atendimento personalizado de pacientes no período máximo de 24 horas. Entre as suas contribuições estão: a humanização do ambiente e a redução dos riscos de infecções, além de causar menor impacto na rotina dos atendidos. Segundo Patrícia Biasi Cavalcanti, doutora em arquitetura e professora associada à ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, os projetos arquitetônicos para essa modalidade de atendimento ainda precisam ser mais explorados no Brasil.


A inclusão de novos métodos na prática médica, na atualidade, permite que o tempo de internação de pacientes seja mínimo e proporciona vários benefícios, como a não interrupção de sua rotina e o suporte da família. Este novo conceito de atendimento, conhecido como Hospital-Dia, conta com a arquitetura como grande aliada para a recuperação dos doentes.

Para Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, a adoção de elementos arquitetônicos contribui no alívio da tensão de paciente e acompanhante e nas condições de trabalho da equipe médica. “O cuidar, o tratar e o curar não se processam apenas pelos medicamentos. Outras características compõem esse processo e a arquitetura é certamente uma das principais”. De acordo com o especialista, as edificações hospitalares, cuja arquitetura visa a humanização do ambiente, são essenciais para oferecer conforto aos atendidos e um facilitador para o dia a dia dos profissionais de saúde.  

Segundo Patrícia Biasi Cavalcanti, arquiteta associada à ABDEH, a expansão dos Hospitais-Dia no Brasil está relacionada ao avanço das tecnologias na área da saúde. Esse tipo de atendimento começou a ser adotado por instituições psiquiátricas na União Soviética (1932), depois pelo Canadá (1946) e posteriormente no Reino Unido (1954), com intuito de conciliar o atendimento hospitalar com os benefícios de permanecer em casa. A modalidade começou a expandir a partir da década de 80 nos Estados Unidos e Europa e, no Brasil, só chegou nos anos 90, para atender primeiramente pacientes portadores de HIV ou psiquiátricos, cirúrgicos, oncológicos e geriátricos. 

Entre os benefícios desse serviço estão: a otimização da infraestrutura hospitalar e de seu corpo de funcionários, o aumento na rotatividade de pacientes e na capacidade de atendimento e, consequentemente, na redução de custos dos serviços prestados. A arquiteta é autora da tese de doutorado “A Humanização de Unidades Clínicas de Hospital-Dia: vivência e apropriação pelos usuários”, pela UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para ela, a arquitetura deve colaborar com a qualidade do atendimento e com a humanização do ambiente hospitalar. “No caso dos Hospitais-Dia, é preciso pensar em alternativas para tornar o ambiente mais agradável ao paciente, ou seja, proporcionar mais distrações positivas, como sistemas de áudio e vídeo, revisteiros,  salas multiusos e atividades recreativas, para que o período de semi-internação seja uma experiência menos angustiante para pacientes, acompanhantes e profissionais”, ressalta. 

Patrícia Biasi já visitou 31 unidades de Hospital-Dia no Brasil e 18 centros no exterior para realizar pesquisa que resultou em sua tese de Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no ano passado. A pesquisadora constatou que alguns estabelecimentos no País têm problemas de manutenção e poucos investimentos na edificação, ao contrário dos hospitais privados internacionais, que apostam em elementos auxiliares para a humanização dos ambientes. “Em boa parte dos estabelecimentos de saúde no Brasil, especialmente nos públicos, que são a maioria, as restrições de natureza financeira limitam a concretização de estratégias de humanização dos ambientes e, raramente, a diversidade de usos e distrações positivas é prevista na configuração ambiental”, afirma. 

“Por conta dessa realidade, a suavização desses locais, no sentido de sua vivência, é uma possibilidade ainda a ser explorada, de modo a favorecer uma postura mais ativa dos pacientes, causar o menor impacto possível sobre suas rotinas, contribuir para a recuperação de sua saúde e para o seu bem-estar”, completa Patrícia.   

Mesmo com essas dificuldades, os arquitetos brasileiros conseguem ser criativos ao oferecer espaços para dar suporte ao paciente durante a sua permanência nos Hospitais-Dia, evitando a ociosidade ou repouso desnecessário. “Como os tratamentos são feitos em períodos prolongados e com certa freqüência, há a necessidade de apostar em elementos para distração, como oferecer opções para a leitura, música e televisão, além de acesso à Internet, que ainda é pouco explorada nesses locais”, assegura a associada à ABDEH. Ela explica que, todas essas distrações favorece o controle da ansiedade e estimula o atendido a continuar acordado durante o procedimento para que não tenha dificuldades de sono à noite.  

Outra preocupação dos arquitetos é quanto à privacidade dos pacientes. Para isso, ao invés de grandes salões coletivos, a aposta é dispor de espaços menores para colocar poltronas ou leitos. Além disso, deve-se pensar na inclusão de divisórias fixas (alvenaria, biombos etc.) ou retráteis, que permitam ao paciente controlar a interação com o ambiente. “Na pesquisa que fiz, verifiquei que muitos atendidos não se importavam de perder um pouco da privacidade com intuito de manter o contato direto com os médicos. Já para os profissionais na área da saúde, a interação social é vista como positiva”, acrescenta Patrícia. A polivalência dos espaços e o controle das condições ambientais (iluminação, temperatura, ruídos, mobiliário) também são essenciais para o conforto dos usuários dos Hospitais-Dia.

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