segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial debate ‘O Agro Brasileiro no Ambiente Internacional’


Promovido pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), a 19ª edição do seminário abordou temas como as perspectivas e análise do mercado atual de máquinas e implementos agrícolas, os reflexos da disputa comercial entre as maiores economias mundiais, o cenário e possibilidades de crescimento do setor agropecuário no Brasil e no mundo e a circulação de dados do agronegócio por meio do Banco Colaborativo do Agricultor

“A indústria de máquinas agrícolas é uma grande exportadora. E acreditamos que com o aumento da competitividade proporcionada pelas medidas do governo em curso, adicionadas a uma política de seguro de crédito e financiamentos aos exportadores, o Brasil pode melhorar sua pauta de exportações agregando a ela maior valor e tecnologia”. Assim João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, abriu a 19ª edição do Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial, que teve como tema ‘O Agro Brasileiro no Ambiente Internacional’. O evento, promovido pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) com apoio da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI), foi realizado no dia 4 de outubro, na sede da entidade, em São Paulo. 

A abertura do seminário foi marcada ainda por uma homenagem feita por Marchesan ao ex-presidente da CSMIA, Shiro Nishimura, responsável pela realização da primeira edição do evento. “Quero dedicar a ele esse seminário e cumprimentar a todos os outros fabricantes de máquinas e implementos agrícolas do Brasil”.

Pedro Estevão Bastos, presidente da CSMIA, fez uma análise do mercado de máquinas e implementos agrícolas em 2019. “No acumulado do ano, de janeiro a agosto, crescemos 5% quando comparado com 2018. Com relação à exportação caímos 21%, impactados principalmente com queda de demanda da Argentina e Paraguai. Já as importações subiram 15,9% devido à aquisição de componentes e matéria-prima”.

CONJUNTURA

Ariel Antônio Mendes, diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), expôs sobre ‘Proteína Animal: Acordo Mercosul x União Europeia, Peste Suína Africana e seus Impactos na Produção de Cereais no Brasil’.

Com relação a peste suína africana, Mendes explicou que a situação está fora de controle. “No total foram detectados 358 focos da doença, mas a situação mais crítica é na China com 138 focos em 32 províncias. Houve a redução de quase 40% do rebanho chinês, o equivalente a 16 milhões de toneladas de carne. Mesmo com o redirecionamento da produção interna chinesa e do comércio internacional de proteína animal, ainda faltarão 8 milhões de toneladas para suprir a china”.

O diretor da ABPA frisou que a sanidade continuará sendo fundamental para manutenção do sucesso do agronegócio brasileiro. “As agroindústrias devem investir pesado na agregação de valor para atender mercados top e nichos no Brasil e no exterior. Temos também que estar preparados para atender as exigências cada vez maiores dos importadores”.

‘Alimento, Água e Energia Nexus sem Nexo?’ foi o tema apresentado por Silvio Crestana, ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMPRAPA). Ele enfatizou que até 2050 o mundo terá uma população de 9 bilhões de pessoas e que o Brasil será responsável por suprir 40% do crescimento da demanda mundial de alimentos. “Daqui 30 anos teremos uma tempestade perfeita, ou seja, nosso desafio será produzir 60% a mais de alimentos, além de 50% adicional de energia e 40% de água”.

Crestana mencionou alguns ‘nexus com nexo’ que o setor do agronegócio terá que enfrentar: limitação da conectividade e cintilação (perda de sinal do GPS); fazer parte ou não dos novos desenvolvimentos e modelos de negócios; mão de obra inexistente ou despreparada; treinar recursos humanos com novos perfis e atrair os jovens e mulheres para o agro; melhorar a eficiência do uso de recursos naturais e insumos para aumentar a produtividade das lavouras e criações; indução e sinergia com startups; necessidade de parcerias/rearranjos institucionais/corporativos; e lidar com sistemas mais complexos, como integração lavoura-pecuária- floresta (ILPF).

BDCA

Guilherme Gonsales Panes, professor de pós-graduação na UNIVEM/Marília e USC/Bauru e gerente de Desenvolvimento de Negócios da Jacto, tratou do Banco de Dados Colaborativo do Agricultor (BDCA), que tem o propósito de integrar os dados gerados por equipamentos e sensores de todos os fabricantes a fim de ajudar o agricultor na tomada da decisão.

Panes citou os benefícios do BDCA. “Para o agricultor será possível centralizar as informações em um único local sem depender de sistema do fabricante. Já os fabricantes de máquinas e sensores poderão compartilhar parte ou a totalidade dos dados gerados de máquinas de diferentes marcas”.

O professor explicou que a ABIMAQ será responsável pelo BDCA com o intuído de garantir a segurança dos dados e do compartilhamento, quando autorizado pelo agricultor.

O lançamento do projeto está previsto para maio de 2020.

FERNANDO HONORATO

Para falar sobre macroeconomia e seus efeitos no setor agropecuário brasileiro, o seminário contou com apresentação de Fernando Honorato, economista-chefe do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco e vice-presidente do comitê de macroeconomia da Anbima - Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.

Em seu discurso, o profissional elencou fatores que influenciaram e traduzem o comportamento da economia no Brasil e no mundo e o quanto isso pode impactar o agro brasileiro.

No mercado internacional, ele avaliou que existe um processo de disputa comercial num ambiente de incertezas de políticas econômicas bastante relevante e elas mostram uma retaliação de tarifas. “Os EUA estão aplicando, hoje, tarifas sobre a China sem precedentes. O Brasil, apesar disso tudo, tem tarifas de importação, mas vemos um movimento de decisão das empresas por conta da forte agitação dos pontos de investimento no mundo”.

Fernando pontuou que estamos vendo um movimento onde os asiáticos têm dúvidas se o próximo passo será expandir a fronteira ou recuar em relação aos Estados Unidos.

Quanto ao desempenho da indústria dentro deste cenário, o representante do Bradesco destacou que está acontecendo uma desaceleração intensa e quem mais sofreu com isso foram os investimentos. E cita que as vendas de máquinas e equipamentos tiveram um salto após a primeira crise, mas logo começaram a perder atração. “Então notamos claramente uma queda de confiança dos investidores globais perante aos principais atores da economia mundial”.

CENÁRIO NACIONAL

No Brasil, Fernando cita que alguns dos fatores que impactaram o fraco crescimento de renda per capita nos últimos 40 anos, um dos menores da América Latina, que a média é de 2%, foram os gastos públicos excessivos, baixa integração comercial, complexidade do ambiente de negócios, competição e educação. Para ele, a dívida pública e a carga tributária são reflexos dessas despesas do governo em porcentagem do PIB que, em 1991, era de 10,8% e passou para 19,8% em 2018.

E ainda alertou que o estoque de infraestrutura no Brasil vem caindo desde o final da década de oitenta. “Se for sintetizar isso em dois gráficos eu diria que a nossa produtividade nos últimos trinta anos cresceu 1.7% em comparação aos outros países emergentes”.

CARLOS COGO

CEO na Cogo Inteligência em Agronegócio, o consultor Carlos Cogo palestrou sobre os Cenários da Agropecuária no Brasil e no Mundo com indicadores que que demostraram a performance do setor dentro e fora do País nos últimos anos.

Cogo frisou que os quatro tradicionais grãos do mundo estão se movimentando de maneira diferente. As produções de trigo e arroz não crescem mais, mas a área do trigo ainda é a maior do mundo hoje e as duas que mais crescem são: segundo colocado o milho, e o quarto colocado a soja, que tem o maior crescimento de plantio dos últimos 20 anos. “O mundo está demandando menos trigo, menos derivados de trigo, menos massa, menos arroz. Já imaginávamos os brasileiros comendo menos cereais. Algumas carnes caindo, a carne de frango subindo. Obviamente, que a alavancagem de toda essa demanda de soja e milho está em cima da grande procura por proteínas animais”.

EUA E CHINA

A guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas, China e os EUA, na visão de Cogo, não haverá perdedores ou ganhadores, mas o Brasil, a longo prazo, perde volume de transações globais. “Os ganhos que a gente conquistar durante a guerra comercial serão mantidos”.

AGRONEGÓCIO – BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL EM U$$ BILHÕES

A exportação de cada uma das carnes, bovina, frango e suína teve mais ganho para o mercado chinês, e o crescimento tem sido de dois dígitos. “Se a produtividade da economia brasileira fosse igual da agropecuária, não estaríamos aqui discutindo, estávamos tratando de outras coisas. O Brasil é o segundo maior exportador agrícola do mundo, mas é o maior exportador de carne do mundo”, completou Cogo.

Entre janeiro e setembro de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado, o Brasil exportou +10,2% de carne bonina, +10,4% de carne de frango e +14,5% de carne suína para todos os destinos, contra +11% de bovina, 19% de frango e 31% de suína para a China.

Para conferir mais detalhes das palestras, saber o conteúdo dos debates e ter acesso às apresentações do seminário solicitar pelo e-mail: csmia@abimaq.org.br.

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