quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O Agro Brasileiro e a Recuperação Econômica são temas da 20ª edição do Seminário de Planejamento Estratégico

O impacto da proteína animal na nova economia mundial, macroeconomia e seus efeitos no setor agropecuário brasileiro e cenários da agropecuária no Brasil e no mundo foram alguns dos temas debatidos no evento promovido pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA)

“Estarmos aqui reunidos pelo vigésimo ano consecutivo com a participação de especialistas da área para debatermos as estratégias e perspectivas para o ano de 2021. Isso é oportuno para planejarmos as nossas empresas para as oportunidades e os desafios para o próximo ano”. Assim João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ, abriu a 20ª edição do Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial, que teve como tema ‘O Agro Brasileiro e a Recuperação Econômica’. 

O evento, promovido pela Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) com apoio da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI), da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG) e da ABNT/CB-203 - Comitê Brasileiro de Tratores, Máquinas Agrícolas e Florestais, foi realizado no dia 2 de outubro, pela primeira vez no formato online. 

Pedro Estevão Bastos, presidente da CSMIA, fez uma análise do mercado de máquinas e implementos agrícolas em 2020. “Este ano será inesquecível, principalmente pelas vendas de máquinas agrícolas que no acumulado do ano aponta o crescimento de 9%. Esse é o melhor resultado desde de 2013.  Mas como tudo não é perfeito esse aquecimento das vendas vem consumindo rapidamente os recursos das linhas de financiamentos, como do Moderfrota e Pronaf Mais Alimentos. A nossa estimativa é que esses recursos acabam em dezembro. Eu diria que o aporte nessas linhas não é algo trivial devido aos problemas orçamentários do governo pelos volumes necessários. Certamente é o trabalho da ABIMAQ rever junto ao governo os aportes que se fazem necessários para o setor”. 

José Velloso, presidente executivo da ABIMAQ, fez uma apresentação abordando os serviços e benefícios que a entidade oferece aos seus associados, o trabalho de mobilização da indústria no combate ao Covid-19 e a campanha da entidade sobre a reforma tributária.

PROTEÍNA ANIMAL

Ricardo João Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), expôs o tema ‘O Impacto da Proteína Animal na Nova Economia Mundial’. “Quando se fala de carne de frango o Brasil é protagonista. Nós somos o terceiro maior produtor do mundo atualmente com 13,245 milhões de toneladas, o que representa 13,4% da produção mundial. 

Além disso, estamos em primeiro lugar como exportador mundial atingindo 4,21 milhões de toneladas, o que equivale 35% das exportações mundiais”.  

Com relação a produção de suínos, Santin comentou que o Brasil produz 3,983 milhões de toneladas, o que corresponde 3,9% da produção mundial, e exporta 750 mil toneladas, ou seja, 8% das exportações mundiais. “Em ambos o País aparece na quarta posição mundial”. 

Sobre a projeção de produção de alimentos para 2026/2027, o presidente da ABPA disse que é esperado o aumento de 41% na produção brasileira. “Esse é um cenário que vamos precisar de muita terra, grão, máquina para poder tocar essa elevação. O País tem muito para crescer, principalmente na inserção de tecnologia no campo”. 

Para Ricardo João Santin, a peste africana que afetou a China em 2019 começa agora a ter efeitos mais severos. “Isso porque no ano passado a China teve um abate muito grande de suínos por conta da peste africana e também foi feito abates antecipados a fim de amenizar o fornecimento de carne. Isso representou uma queda de 21% de produção, o equivalente a 11,4 milhões de toneladas. Agora, no entanto, o país está sentido a falta daquelas matrizes que morreram por conta da doença e não produziram carne até agora. A previsão de produção para 2020 é de 36 milhões, número bem melhor do que em 2019 com 42 milhões e de 2018 com 54 milhões”. 

Segundo Santin, a recuperação da produção de carne suína em níveis pré- peste africana (54 milhões de tonelada em 2018) está prevista para 2025. “Porém, permanecendo os níveis de consumo per capita de 2018, com o aumento populacional e mais pessoas na linha de consumo, em 2025 a produção chinesa precisaria alcançar 56 milhões de toneladas. Considerando essa demanda, o país ainda precisará importar um volume de 5%, ou seja, cerca de 2,8 milhões de toneladas. Isso faz com que o Brasil tenha um cenário mais positivo para poder seguir exportando no próximo ano”.

MACROECONOMIA

“Macroeconomia e Seus Efeitos no Setor Agropecuário Brasileiro’ foi o tema da palestra de Fernando Honorato, economista-chefe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, e vice-presidente do comitê de macroeconomia da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).  

Honorato ressaltou que após estímulos sem precedentes, que não ocorria desde o esforço de reconstrução da segunda guerra mundial, a economia global conseguiu ter uma recuperação rápida. “Mas chegaremos agora no final do ano e começo do próximo numa certa “velocidade de cruzeiro” do mundo sem vacina, ou seja, os estímulos todos surtiram efeito, produziram uma retomada forte para o terceiro trimestre e os setores que tínhamos para reabrir sem a vacina foram reabertos. No entanto, essa retomada muito forte seguida dessa acomodação produziu vários efeitos na economia global e brasileira. Entre as ações para proteger a economia estão, por exemplo, o estimulo fiscal de 12% do PIB dos países desenvolvidos e de 9% do Brasil e injeção de liquidez dos bancos centrais no mundo”.    

O economista-chefe do Bradesco afirmou que a atividade doméstica brasileira tem recuperação impulsionada por quatro estímulos para a reabertura econômica. “A primeira é a queda da taxa real de juros, pois é a primeira vez na história que o Brasil prática taxa de juros reais negativas de maneira voluntária, ou seja, sem que isso seja resultado do aumento das pressões inflacionárias como foi na década de 80”. 

De acordo com Honorato, o segundo estímulo foi do crédito. “Em adição a queda de juros, os bancos conseguem apoiar a retomada da economia com expansão de crédito. Mesmo com uma realidade de quase 30% de crescimento de crédito para as empresas e apesar da queda de produção industrial da ordem de 2% chegando até mais de 25%”. 

O terceiro incentivo é a contribuição do setor externo está dando para que a economia não caia tanto. “Enquanto notamos que o PIB do comércio mundial vai encolher 4,5% ou mais neste ano, as exportações brasileiras estão crescendo em 2020, e 80% desse aumento se deve ao setor agrícola combinado com um ambiente de câmbio, demanda global e safra favorável”, esclarece Honorato.  

Para ele, o auxílio emergencial produziu algo extraordinariamente forte no Brasil. “Apesar de o Brasil ter tido 10 milhões de pessoas que perderam emprego, mas o fato de 65 milhões delas receberam o auxílio emergencial fez com que a renda agregada da economia crescesse 12% em 2020, embora o PIB encolheu 4,5% no ano. Não é por outra razão, em particular nas faixas de mais baixa renda que teve uma expansão de 30 a 60% de seu rendimento, que o setor de alimentos performou tão bem e acabou sensibilizando a agricultura. Isso explica também o porquê das vendas do varejo estão no seu melhor momento desde 2014”.

CONJUNTURA AGRO

Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, fez uma apresentação sobre ‘Cenários da Agropecuária no Brasil e no Mundo’.  

Cogo frisou que o peso das exportações no acumulado do ano (de janeiro a setembro 2020) está em 50,3%. “Nós nunca tínhamos atingido esse nível, o máximo que conseguimos foi 46,2% em 2015. Além disso, a nossa projeção é de fechar o ano com 105 bilhões de dólares com exportação. Um saldo da balança comercial de 93 bilhões de dólares e se confirmar esse cenário vai ser o maior resultado de balança comercial da história”. 

Ele também acentuou que o modal brasileiro de transportes de carga vai mudar radicalmente até 2025. “O peso da rodovia vai diminuir de 65% para 30%. O de ferrovia vai subir de 15% para 35%. O de hidrovia vai de 13,6 para 29%. Então dois terços do nosso modal prioritário do país vão ser de ferrovia e hidrovia. Isso ocorrerá porque o governo com uma coisa simples chamada concessão vai conseguir fazer com que se sonhou durante anos”.

Cogo apontou alguns riscos que o setor agropecuário pode ter. Um é de ordem sanitária como da peste africana. O outro é com relação a segurança fitossanitária às culturas em geral no sentido de evitar a disseminação de pragas e doenças. Além disso, existe a ameaça de taxar a exportação de produtos agrícolas na reforma tributária. E por fim o perigo de produtos serem embargados e de o país não conseguir fechar acordo comercial caso não resolva logo a questão das queimadas.

HOMENAGEM

Pelos anos dedicados ao crescimento e consolidação da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), Shiro Nishimura (centro), responsável pela realização da primeira edição do Seminário de Planejamento Estratégico Empresarial foi homenageado no evento recebendo uma placa de Pedro Estevão Bastos, presidente da CSMIA, e de João Marchesan, presidente da ABIMAQ. 

Nishimura ressaltou que o espirito de união tem um valor inestimável. “Nesses últimos 25 anos nós trabalhamos juntos criando um ambiente saudável de executivos de empresas e ao mesmo tempo construindo o que era necessário para o setor”. 

Já no dia 15 de outubro, Pedro Estevão Bastos e João Marchesan entregaram pessoalmente a placa para Shiro Nishimura. 

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