Por Ricardo Martins*
O setor industrial brasileiro já sofre com o pagamento das mais altas
cargas tributária do mundo, com custos elevados de energia e gás, com a
defasagem cambial, com juros altos e investimentos ineficientes na
infraestrutura, o que eleva os gastos com logística, entre outros
entraves que afetam a competitividade do setor.
O caos tributário brasileiro não para por aí. A
estabilidade econômica revela mais uma mazela que aflige o empresariado
industrial: pagar impostos mesmo antes de receber as vendas que os
originaram. A dura realidade é que além de suportar a mais alta carga
tributária do mundo a indústria brasileira ainda se vê obrigada a tomar
empréstimos bancários para pagar impostos sobre vendas que só receberá
muito mais adiante. Estudos do CIESP - Centro das Indústrias do Estado
de São Paulo / FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
revela que as indústrias estão pagando impostos com uma antecipação de
49 dias antes do recebimento das vendas.
Esse desalinhamento, entre a entrada das receitas e o
pagamento de impostos, elevou os encargos das empresas brasileiras em R$
7,5 bilhões/anuais. Montante esse que poderia ser usado em mais
investimentos no setor, na geração de mais empregos e renda, com vistas a
elevar o consumo e a produção.
Na década de 80 até o início de 90, a antecipação do
pagamento do PIS, Cofins, IPI e ICMS se justificava por causa da
hiperinflação. Naquele período, o IPCA – Índice de Preços ao Consumidor
chegava a ser superior a 80%. Hoje, a realidade é outra, para se ter uma
ideia: de janeiro a julho deste ano, o índice da inflação chegou a
2,91%. Por isso, 20 anos após essa fase turbulenta, já não tem sentido
insistir nos prazos de antecipação para a quitação dos impostos.
Devido a tudo isso e à estagnação da produção
industrial brasileira, o CIESP / FIESP acaba de encaminhar proposta de
prorrogação do recolhimento de impostos aos governos federal e estadual,
baseando o pedido no estudo (Necessidade de Capital de Giro para
Recolhimento de Tributos e o seu Custo Financeiro para a Indústria de
Transformação) realizado pelas entidades que comprova a necessidade de
alteração dos prazos de recolhimento para 60 dias.
Para não afetar as contas públicas, o prazo de pagamento seria
postergado em cinco dias, a cada mês corrente. Ao fim de um ano, o total
chegaria a 60 dias de prorrogação e o tempo de recolhimento dos
encargos ficaria mais alinhado com o recebimento dos valores obtidos com
as vendas da produção.
Se aprovada, a alteração diminuirá em 80,47% o recolhimento antecipado
da PIS, Cofins e IPI. Já o prazo entre o pagamento de tributos e o
recebimento das vendas cairia para 47 dias. Na prática, isto significa,
em comparação a 2011, uma economia de R$ 63,9 bilhões no capital de giro
e de R$ 3,7 bilhões de custo financeiro. No caso do ICMS, a redução
entre a quitação dos tributos e das vendas seria de 60,64% e o prazo do
recolhimento do tributo diminuiria para 41 dias. Essa mudança vai
representar uma redução de R$ 139,5 bilhões no capital de giro e R$ 7,5
bilhões/anuais nos custos financeiros das cobranças do PIS, Cofins, IPI e
ICMS.
Além disso, essa mudança beneficiará muito as micro e pequenas empresas,
pois reduz a necessidade de usar o capital de giro para pagamento de
impostos. Muitas dessas companhias não dispõem de reserva de caixa e têm
dificuldade de conseguir crédito junto às instituições financeiras.
Isso sem falar na utilização frequente do fundo de investimento próprio,
que pode inviabilizar o crescimento da indústria, ou seja, brecar os
investimentos para uma possível expansão nas áreas de inovação, pesquisa
e desenvolvimento ou, até mesmo, na produção.
Chega de tomar dinheiro em banco para pagar impostos está é a afirmação
diante deste cenário, já está mais que na hora, a adequação dos prazos
entre o pagamento dos impostos e a entrada das receitas. Sem isso, o
setor industrial e, principalmente, as empresas menores serão os mais
prejudicados. A mudança não ajudará somente o segmento produtivo, mas
servirá como estímulo às atividades econômicas. Cabe o apoio dos nossos
governantes na adoção dessas medidas e beneficiar o desenvolvimento de
nosso País.
* Ricardo Martins é diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) - Distrital Leste (www.ciespleste.com.br)
e diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP.
Também é vice-presidente do SICETEL - Sindicato Nacional das Indústrias
de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos. E-mail: linkciespleste@gmail.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário