terça-feira, 30 de outubro de 2012

FALTA DE CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE PREJUDICA LOCOMOÇÃO DE IDOSOS

Hoje, no Brasil, há 23,5 milhões de idosos, o que representa 12% da população na terceira idade. Desses, pelo menos 36,5%, acima de 50 anos, tem alguma dificuldade em realizar uma tarefa. Porém, de acordo com os especialistas consultados, ainda faltam políticas especificas tanto na área da saúde como na cidade para atender pessoas acima de 60 anos


Segundo relatório do UNFPA - Fundo de População das Nações Unidas, no mundo existe 810 milhões de habitantes acima de 60 anos. A estimativa é que em dez anos o número salte para 1 bilhão. Desse total, pelo menos 46% têm alguma incapacidade e 35,6 milhões, problemas de demência. Já no Brasil de acordo com a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2011, há 23,5 milhões de idosos. Até 2025, a expectativa é que haja, aproximadamente, 32 milhões de pessoas na terceira idade, conforme mostra o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dessas, 36,5%, acima de 50 anos, possuem alguma dificuldade de realizar uma tarefa ou incapacidade funcional.

O cenário mostra que há a necessidade de reforçar medidas específicas para este grupo etário da população, em especial na área da saúde. O quesito inclusão também merece atenção especial. Segundo Fábio Bitencourt, presidente da ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, ao projetar um estabelecimento de saúde é preciso atender os anseios dos cidadãos da terceira idade, levando em conta as suas dificuldades e limitações para possibilitar autonomia na sua locomoção e conforto durante a estadia no hospital”, ressalta.   

Para o psicogeriatra Jerson Laks os cuidados com os idosos devem começar desde a saúde primária como também na promoção de programas de prevenção. “Os custos com internações e procedimentos ambulatoriais são altos. Por isso, é importante ter uma rede inteligente para conhecer o perfil dos problemas mais comuns e alocar recursos conforme as necessidades locais”, afirma. “Hoje o diagnóstico para doenças crônicas e degenerativas, demência e depressão, mais comuns em pessoas acima de 60 anos, é tardio, além do atendimento não ser integrado. Por conta do aumento desta parcela da população é fundamental investir na capacitação de profissionais, adotar políticas públicas específicas e sensibilizar a sociedade”, completa.            

Luiz Carlos Toledo, arquiteto associado à ABDEH e professor UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro, sabe bem das dificuldades de locomover-se na cidade. Por ter uma doença degenerativa, que afeta diretamente a sua mobilidade, ele recebe cuidados uma vez por semana no Hospital da Rede Sarah, especializado em reabilitação. “Quando eu preciso ir ao Sarah vou feliz da vida, porque sei que vou encontrar um ambiente seguro e ter contato com a natureza. Porém, o trajeto até chegar ao local é um terror. Na cidade há calçadas horríveis, muitos buracos e, quando tem rampa, geralmente é malfeita. Isso faz com que o idoso seja um prisioneiro na própria casa”, conta.

De acordo com ele, a falta da promoção de condições à acessibilidade para pessoas acima de 60 anos não é problema apenas nos ambientes de saúde. “Assim como a própria cidade é agressiva ao idoso, grande parte dos hospitais está longe de atender as necessidades desta parcela da população. É preciso que a sociedade encare a velhice não como uma doença, mas como uma etapa que naturalmente faz parte na vida de cada um”, acrescenta.   

A disposição do mobiliário, áreas para convivência, contato com a natureza, iluminação e ventilação natural, rampa, corrimão, piso não escorregadio, banheiro adaptado e elementos eletrônicos (elevadores, portas automáticas e Ceiling Lift, conhecido como elevador de teto que permite o deslocamento do paciente) são algumas das preocupações que se deve ter quando projetamos  ambientes de saúde humanizados e com acesso universal.

Para Ronald de Goés, arquiteto associado à ABDEH e professor da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, apesar dos hospitais apresentarem melhora considerável quanto ao acesso de pessoas com mobilidade reduzida, ainda assim é preciso um esforço para recuperar 60% dos hospitais com mais de 50 anos, que estão com plantas desatualizadas. “Infelizmente, os problemas de acessibilidade para os idosos não se limita aos ambientes de saúde; os espaços públicos no Brasil são uma lástima”, expõe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário