Por Márcia Mariani*
A gestão biocêntrica é baseada no entendimento de que a vida,
inclusive a vida humana, é mantida por uma inter-relação entre as
espécies. Deste modo, a visão biocêntrica significa que a referência
precisa ser a ‘vida’ e não o ser humano como idealizado na visão
antropocêntrica. Na verdade, essa nova visão contribui para a mudança de
nossos valores culturais, até então baseados no homem, para um
referencial de respeito ao universo como sistema vivente.
O princípio biocêntrico foi idealizado pelo
pesquisador chileno Rolando Toro Araneda, que começou seus estudos no
fim da década de 60. Suas primeiras experiências com o novo sistema
foram aplicadas no Hospital Psiquiátrico de Santiago e no Instituto de
Estética da Universidade Católica de Chile. Ele também criou a
Internacional Biocentric Foundation (IBF), com o objetivo de difundir a
cultura biocêntrica que acabou influenciando várias áreas de atuação.
Este conceito passou a vigorar com mais intensidade a
partir dos anos 90. Uma grande contribuição para a formação deste
princípio foram as diretrizes advindas da Conferência Eco 92 realizada
no Rio de Janeiro. A legislação e todos os segmentos mercadológicos
estão no início deste processo de deslocamento do paradigma
antropocêntrico para o biocêntrico. A área de saúde também integra esse
movimento.
Hoje, ao administrar um ambiente de saúde, é
fundamental ter como referência esses princípios para que seja feita uma
gestão profissionalizada que priorize ações em prol da natureza. Alguns
estabelecimentos de saúde já estão começando a implantar atitudes
sustentáveis. Entre as ações encontradas com o foco no conceito
biocêntrico estão: compostagem dos resíduos orgânicos; redução de
consumo de água e energia; normas preferenciais para aquisição de
produtos ou serviços de empresas e/ou entidades que pratiquem a
sustentabilidade; projetos de educação ambiental para colaboradores e
parceiros; inventários de emissão de GEE - Gases de Efeito Estufa;
criação de setor de gestão ambiental.
Entre os seus princípios que norteiam essa nova visão
que estamos colocando em prática nas instituições Hospital e Maternidade
Dr. Eugênio Gomes de Carvalho (MG), Hospital Regional de Marajó (PA) e o
Hospital Regional de Sorriso (MT), todos geridos pelo INDSH - Instituto
Nacional de Desenvolvimento Social e Humano constam:
1- Praticar sempre a abordagem sistêmica;
2- Promover o consumo racional dos recursos renováveis e não renováveis;
3- Incentivar o consumo consciente;
4- Gerenciar todos os resíduos produzidos;
5- Gerenciar os impactos dos resíduos no meio ambiente;
6- Buscar sempre novos conhecimentos;
7- Valorizar, conservar e preservar as riquezas regionais;
8- Promover a liderança inovadora e participativa, e
9- Ser agente de educação ambiental, incentivando sempre as reflexões.
Para que um estabelecimento de saúde alcance a
sustentabilidade, é necessário levar em consideração os três pilares:
econômico, ambiental e social. A questão do meio ambiente não é apenas
economizar, mas saber usar da melhor forma os recursos naturais. O
objetivo é de sempre reduzir, reutilizar e reciclar os materiais e com
isso evitar o desperdício para que deixemos um mundo melhor para as
futuras gerações. Para os gestores dos ambientes de saúde esse é o
momento de arregaçar as mangas para realizar mudanças. Para isso é
importante envolver todas as pessoas que fazem parte da área da saúde
quanto à questão da racionalização dos recursos naturais. Esperamos que,
num futuro próximo, todos os hospitais tenham serviços de gestão
ambiental inseridos em seus organogramas. A adoção da cultura
biocêntrica é mais um novo passo para essa mudança de paradigma na qual
prioriza a vida, em vez do homem como referência.
*Márcia Mariani é administradora,
com pós-graduação em Gestão Ambiental e Sustentabilidade pela Faap –
Fundação Armando Álvares Penteado. Atualmente ocupa o cargo de gerente
ambiental e projetos do INDSH – Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (www.indsh.org.br). E-mail:linkindsh@linkportal.com.br.
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