Por Iraí Borges de Freitas*
A palavra ergonomia vem do grego ergon (trabalho) e normo (normas,
regras, leis), e tem como objetivo compreender as lacunas existentes
entre o trabalho real e o prescrito, com base em conhecimentos de
fisiologia, antropometria e biomecânica, para adaptar as necessidades
entre o homem e o seu ambiente de trabalho. Ou seja, utiliza-se de
conhecimentos científicos necessários para proporcionar de forma
integrada, proteção, conforto, bem-estar e eficácia nas atividades
desenvolvidas em diversas áreas.
No caso dos ambientes de saúde, a sua atuação visa
melhorar a adaptação dos insumos, ferramentas, equipamentos, estações de
trabalho, processo de trabalho e a ambiência aos trabalhadores,
buscando segurança, produção, conforto e saúde, contribuindo assim para
a promoção da qualidade de vida.
No Brasil, o estudo tem como base legal a Norma
Regulamentadora (NR) nº 17 – Ergonomia, do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), que destaca em seu escopo o conforto humano. A NR-17 em
seu item 17.5, ‘Condições ambientais de trabalho’, faz referência às
adequações que devem ser consideradas as características
psicofisiológicas dos trabalhadores e a natureza do trabalho que será
realizado.
No País, a ergonomia foi difundida no final da
década de 60 pelos professores Ruy Leme e Sérgio Penna Kehl que acabaram
por estimular Itiro Iida a fazer uma tese sobre o tema e a criar a
disciplina na USP – Universidade de São Paulo. Ganhou impulso no início
dos anos 70 com a Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de
Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, por meio de pesquisas que deram
origem ao primeiro livro do assunto organizado por Lida. Hoje, a
utilização da técnica está presente em vários setores, entre eles, nos
ambientes de saúde, trazendo com isso benefícios para todos os
envolvidos, incluindo administradores hospitalares, gestores
operacionais, profissionais de saúde, enfermos e seus
acompanhantes.
O seu estudo pode colaborar em diferentes momentos
de um projeto de um estabelecimento de saúde. No momento de concepção
pode se utilizar dos elementos da ambiência: morfologia, cinestesia,
cor, iluminação, ventilação, arte, dentre outros, considerados pela
Cartilha de Ambiência do HumanizaSUS, do Ministério da Saúde. Também
deve considerar os conceitos para uma antropometria aplicada nos
requisitos do projeto, que são direcionados para a tarefa, segurança,
conforto, estereótipo popular, envoltórios de alcances físicos, postura
e aplicação de formas e materiais.
As ações de manejo são consideradas pela ergonomia
envolvendo o sistema de comunicação e informação do usuário: tátil,
visual, auditivo, cinestésico, de vibração, códigos visuais, fatores
aromáticos, morfológicos, tipos gráficos e tecnológicos. Aprecia as
ações de percepção, que são relativas aos movimentos realizados pelos
atores dos espaços, considerando as diversas partes do corpo humano
(braços, mãos, pés, dentre outras), que necessitam de um arranjo
espacial para o manuseio operacional. Outros elementos podem ser
considerados na sua concepção, dependendo da atividade a ser realizada.
Todas essas características contribuem para que o ambiente hospitalar
proporcione a todos um local diferenciado, ou seja, que ofereça um
atendimento humanizado e seja seguro.
Entre os principais parâmetros adotados pela
ergonomia para proporcionar o conforto térmico, acústico e lumínico nos
espaços assistenciais de saúde estão:
- Para os locais de trabalho que realize atividades
que demandam o uso do intelecto e de atenção constantes, ela destaca a
necessidade de parâmetros à temperatura efetiva (entre 20ºC e 23ºC), a
umidade relativa (não inferior a 40%) e a velocidade do ar (não superior
a 0, 75 m/s), ao ruído (de acordo com a NBR 10152) e a iluminância (de
acordo com a NBR-5413) nos locais de trabalho. Além disso, a Resolução -
RE nº 176 de 24 de outubro de 2000 recomenda que a renovação de ar
mínima é de 17 m3/hora/pessoa, procurando evitar uma grande concentração
de CO2;
- Quanto aos níveis de ruído, que não contemplam a
NBR 10152, a NR-17 para o conforto acústico indica 65 dB(A) e a curva de
avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB;
- Ao nos referirmos à iluminação, a NR-17 considera
os valores de iluminância estabelecidos na NBR-5413 – iluminância de
interiores, que orienta as medições médias mínimas adequadas nas
estações de trabalho. A RDC-50 reforça que o conforto luminoso a partir
da fonte natural deve seguir as orientações da NBR-5413 e que é
fundamental observar os ambientes que demandam obscuridade. A ergonomia
entende que o sistema de iluminação, a escolha do tipo de lâmpada e a
distribuição das mesmas devem considerar as características do trabalho
que será executado num determinado espaço.
Embora o método introduzido no Brasil, busque
compreender a atividade para transformá-la, com a voz ativa do
trabalhador compreendemos que ainda são realizados trabalhos com uma
perspectiva que muito valoriza muito o enfoque técnico e pouco
considerando as variadas características do trabalho humano. Por isso,
não adianta elaborar um produto com um belo design, se este não
contempla as necessidades de quem irá utilizá-lo.
A ergonomia deve apreciar a dimensão coletiva do
trabalho, compreender fenômenos fisiológicos, cognitivos, psíquicos e
sociais do qual o trabalhador se utiliza para realizar a tarefa. Quando
observamos o hospital contemporâneo, encontramos um organismo complexo,
com vários novos segmentos que se inter- relacionam e que requerem novos
profissionais que trazem novas especializações que possam agregar
informações que enriqueçam e facilitem as concepções, as montagens e as
manutenções.
Portanto, recomenda-se que no processo de concepção
dos espaços, das máquinas e dos produtos, os ergonomistas continuem
cada vez mais compondo as equipes multiprofissionais, que podem tentar
evitar modificações futuras que acarretem gastos nada generosos aos
gestores dos ambientes de saúde.
*Iraí Borges de Freitas é
Pedagogo, Professor Peaquisador da FIOCRUZ-Epsjv-labman, Mestrando em
Desenvolvimento Local pela Unisuam com Especialização em ergonomia pela
UFRJ/Coppe - Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa
de Engenharia e Especialização em ergonomia e usabilidade pela PUC –
Pontifícia Universidade Católica. É coautor do livro ‘Ergonomia no Ambiente Hospitalar’. Atualmente ocupa o cargo de Coordenador de Relações Institucionais da ABDEH - Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar.
Parabéns Iraí. Eu Eliane, Márcia e Solimar amamos a matéria. Meu face Ly Marques.
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